30 março 2012
Cineasta foi o mestre inventor dos efeitos especiais no cinema
A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, EUA, 2011), de Martin Scorsese
Na Paris da década de 30, Hugo acaba de ficar órfão. Ele descobre que o robô deixado para ele por seu pai esconde um mistério. Com a ajuda de uma nova amiga, o menino viverá uma incrível aventura. Este é o argumento manifesto como uma aventura infanto-juvenil. O argumento subjacente não se dirige aos jovens. Trata-se de uma apologia ao próprio cinema com uma particular homenagem, quase um documentário, sobre um dos precursores da sétima arte e talvez o mais injustiçado pela competitividade humana: Georges Meliés, sucessor dos irmãos Lumière e mestre inventor dos efeitos especiais.
Quem pensa que o primeiro filme a cores foi ... E o Vento Levou, pode ficar chocado e deveras intrigado com O Reino das Fadas (Le Royaume des Fées, 1903), O Caldeirão Infernal (Le Chaudron Infernal, 1903) ou O Inquilino Diabólico (Le Locataire Diabolique,1909). Sem falar na sua grande obra-prima: Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune), 1902. Como não poderia faltar ao pai da ficção científica, Méliès reproduz, através da nova tecnologia, um romance do sublime visionário Júlio Verne. Mas quem se faz gênio nem sempre morre reconhecido como tal. Sua companhia de filmes, a Star Films, foi considerada, por algum tempo, como referência mundial em cinema. Mas concorrentes foram surgindo e o cinema amadurecendo. E surge Griffith e a Pathé, concorrência forte demais para um ilusionista que trabalhava artesanalmente. É de se frisar que a nova linguagem do cinema é a essência do espirito romântico da arte como evasão da realidade e busca de outro tempo que não o insuportável presente. Para além do que, os temas futuristas que incensavam a imaginação dos artistas do cinema e das artes, passaram a não ter mais apelo diante das imagens realistas sobre a morbidez da primeira grande guerra, a primeira na verdade filmada e fotograficamente documentada, colocando o homem diante do horror que ele próprio jamais pode imaginar que fosse capaz de perpetrar.
Martin Scorsese faz um filme para recontar a própria história do filme e corrigir esta injustiça de ter sido colocado no ostracismo uma figura singular da história do cinema. Meliès ainda era vivo quando Hugo Cabret, filho de seu relojoeiro, conseguiu recuperar o autômato, decifrou sua mensagem enigmática e lhe devolveu o autômato. Se hoje a técnica cinematográfica não tem limites, ela serve mais às superproduções fantásticas de guerras nas estrelas do que a argumentos tão singelos como o resgate de um artistas inovador como Meliès. E trazê-lo de volta ao presente como forma de provar a capacidade profética dos grandes artistas como verdadeiras antenas do futuro. Para além de todos os recursos do 3D como os que Scorsese faz questão de usar, é de se notar a beleza da reconstituição de Paris de época com uma locação numa das estações de trem que, por ironia da história, lembra o Quai d'Orsay de hoje em dia, inclusive com seu grande relógio intacto, transformado num dos mais prestigiados museus da arte impressionista francesa.
Vale a pena conferir o filme original de Meliès em:
http://www.youtube.com/watch?v=7JDaOOw0MEE&feature=youtube_gdata_player
Veja o trailer oficial dublado:
http://www.youtube.com/watch?v=QBLsVTJlAqo&feature=youtube_gdata_player
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