03 novembro 2006


Eu me lembro, filme de Edgard Navarro

Longa que ganhou o primeiro prêmio do 38º Festival de Cinema de Brasília do ano passado, entra agora em circuito comercial nas principais capitais do país. Dirigindo seu primeiro longa aos 56 anos, apesar de ser um premiado curta e média-metragista há 30 anos, Edgard Navarro escreve também o roteiro de um filme autobiográfico, mas com fatos e vivências de toda uma geração de brasileiros nascidos e crescidos sob os anos de chumbo da ditadura militar. O filme é uma espécie de Amarcord baiano. Um inventário dos grandes movimentos que mudaram a face do país de meados da década de 50 até a década de 70.
Guiga, o protagonista, aparece, criança, numa Salvador provinciana. No contato com a mãe, Aurora, descobre a sexualidade e seus limites. Com o pai, Guilherme, temível, austero e puritano exacerbado, viverá muitos conflitos. O garoto cresce movido por culpa católica. Sexo e Deus são tabus. A morte da mãe, quando ele era pré-adolescente, o marcará profundamente.
Jovem, nutrirá raiva muda pelo pai. Um dia, este sentimento explodirá em episódio dramático. A literatura e o cinema lhe darão acesso ao mundo dos poetas e visionários. A Ditadura Militar, a universidade, a guerrilha urbana, novas experiências de vida, o desbunde, quando "tudo explode colorido no sol dos cinco sentidos".
Há que se ressaltar a deliciosa e impecável pesquisa de produção com cenários, adereços, mobiliário, impressos e músicas de época, inclusive os mais famosos jingles de rádio e televisão da nascente indústria da publicidade brasileira. Um belo panorama de nossa história recente dentro da linha de nossa atual compulsão pelo auto-conhecimento no cinema, na literatura, na história política e em tantos outros campos da expressão cultural brasileira. Fenômeno de busca de nossa auto-estima perdida como temos nos referido aqui na Voz do Cidadão.

2/6/06

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