Inimá de Paula, um dialeto cromático
Júlio Martins, Museu Inimá de Paula, abril de 2008
Tido como o maior pintor moderno mineiro, Inimá de Paula (1918-1998) era chamado de “o mestre das cores” ou “o maior fauve brasileiro”, segundo o crítico Frederico de Moraes, tamanha a importância do elemento cromático em sua linguagem artística essencialmente expressionista. Expressionismo do final do século XIX que responde ao impressionismo que lhe antecede como a representação pictórica, não do que é, ou parece ser, ou mesmo como vemos ou temos a impressão de ver, mas como efetivamente sentimos o que vemos. Como o próprio expressionismo, o fauvismo foi a ponte do impressionismo do século XIX para a arte moderna, sobretudo para o cubismo que nasce em 1907. Como diria o fundador do fauvismo Matisse e do cubismo Picasso, “Cézanne era o pai de todos nós”. Pois neste expressionista fauve (que significa fera, besta selvagem) é que se começa a notar a explosão das cores puras e sem contornos como recurso de superação do próprio desenho, os traços firmes, os riscos espontâneos e a distorção da própria perspectiva como expressão estética e exacerbação dos sentimentos do pintor. E não só Henri Matisse foi chamado de “fauve”, como também Paul Cézanne, Paul Gauguin, George Braque, André Derain e todos aqueles que exorbitavam da expressão dos sentimentos segundo a crítica francesa do início do século XX. Este aspecto se torna particularmente importante para nosso imaginário a partir do movimento modernista de 22 que ressalta os traços selvagens e de cores explosivas da própria cultura brasileira.
Outro aspecto de suma importância na arte de Inimá de Paula para a contribuição brasileira é sua definitiva opção pelo figurativismo, depois de um breve período abstracionista, num contexto das décadas de 50/60 em que o primeiro era trincheira ideológica de uma arte engajada nas causas populares e o segundo seria a inserção da arte brasileira no debate estético das vanguardas mundiais. Neste debate de nacionalismo versus internacionalismo, Inimá se decide definitivamente pela afirmação dos temas de nossa cultura, como, e principalmente, a favelização das cidades e a devastação das florestas, temas os mais recorrentes de um grande ciclo de obras deste período. Foi, portanto, ambientalista avant-la-lettre. Mas estas opções jamais significaram adesão incondicional ao realismo, tão em voga no populismo das esquerdas da época, sequer o abandono de suas convicções expressionistas. Muito pelo contrário, só exacerbou ainda mais o traço inconfundível de seu estilo. Assim como figurativismo não significa necessariamente provincianismo, abstracionismo não significa necessariamente modernismo. As opções temáticas de Inimá significam também o seu melhor engajamento nas grandes questões nacionais, sobretudo em época de desenvolvimentismo desenfreado e às custas da sustentabilidade ambiental, controvérsia, aliás, que persiste até os dias de hoje. E pauta obrigatória da cidadania mais consciente.
Conheça mais em http://www.inima.org.br/index.html
Júlio Martins, Museu Inimá de Paula, abril de 2008
Tido como o maior pintor moderno mineiro, Inimá de Paula (1918-1998) era chamado de “o mestre das cores” ou “o maior fauve brasileiro”, segundo o crítico Frederico de Moraes, tamanha a importância do elemento cromático em sua linguagem artística essencialmente expressionista. Expressionismo do final do século XIX que responde ao impressionismo que lhe antecede como a representação pictórica, não do que é, ou parece ser, ou mesmo como vemos ou temos a impressão de ver, mas como efetivamente sentimos o que vemos. Como o próprio expressionismo, o fauvismo foi a ponte do impressionismo do século XIX para a arte moderna, sobretudo para o cubismo que nasce em 1907. Como diria o fundador do fauvismo Matisse e do cubismo Picasso, “Cézanne era o pai de todos nós”. Pois neste expressionista fauve (que significa fera, besta selvagem) é que se começa a notar a explosão das cores puras e sem contornos como recurso de superação do próprio desenho, os traços firmes, os riscos espontâneos e a distorção da própria perspectiva como expressão estética e exacerbação dos sentimentos do pintor. E não só Henri Matisse foi chamado de “fauve”, como também Paul Cézanne, Paul Gauguin, George Braque, André Derain e todos aqueles que exorbitavam da expressão dos sentimentos segundo a crítica francesa do início do século XX. Este aspecto se torna particularmente importante para nosso imaginário a partir do movimento modernista de 22 que ressalta os traços selvagens e de cores explosivas da própria cultura brasileira.
Outro aspecto de suma importância na arte de Inimá de Paula para a contribuição brasileira é sua definitiva opção pelo figurativismo, depois de um breve período abstracionista, num contexto das décadas de 50/60 em que o primeiro era trincheira ideológica de uma arte engajada nas causas populares e o segundo seria a inserção da arte brasileira no debate estético das vanguardas mundiais. Neste debate de nacionalismo versus internacionalismo, Inimá se decide definitivamente pela afirmação dos temas de nossa cultura, como, e principalmente, a favelização das cidades e a devastação das florestas, temas os mais recorrentes de um grande ciclo de obras deste período. Foi, portanto, ambientalista avant-la-lettre. Mas estas opções jamais significaram adesão incondicional ao realismo, tão em voga no populismo das esquerdas da época, sequer o abandono de suas convicções expressionistas. Muito pelo contrário, só exacerbou ainda mais o traço inconfundível de seu estilo. Assim como figurativismo não significa necessariamente provincianismo, abstracionismo não significa necessariamente modernismo. As opções temáticas de Inimá significam também o seu melhor engajamento nas grandes questões nacionais, sobretudo em época de desenvolvimentismo desenfreado e às custas da sustentabilidade ambiental, controvérsia, aliás, que persiste até os dias de hoje. E pauta obrigatória da cidadania mais consciente.
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