09 julho 2010

Angelo de Aquino, três anos de morte


Em 27 de junho de 2007 era publicado nos jornais do Rio de Janeiro o anúncio de uma missa de 7º dia de morte do artista plástico mineiro-carioca Angelo de Aquino (1945 – 2007), por iniciativa de seus inúmeros amigos, e em cujo cabeçalho estampava a figura em silhueta do cachorro Rex, ocupando justamente o lugar tradicional do crucifixo. Mas o que nos chamou a atenção não foi apenas a figura do cachorro Rex, uma espécie de marca-símbolo da obra do pintor, ocupando tal lugar. Afinal, nada mais natural que o fizesse, uma vez que esteve presente em inúmeras de suas telas pelo menos nos últimos 20 anos, metade da vida artística de Angelo de Aquino, quando não foi o tema central de várias, e também o seu próprio alter-ego, como a ele se referia o próprio artista. O que é de se ressaltar é o valor da liberdade como condição sem a qual não pode haver a própria expressão da arte. Pois o artista reivindica da sociedade exatamente o direito de quebrar expectativas, romper códigos e sistemas de significação, ir contra a corrente, afirmar singularidades e até mesmo sua excentricidade. O que deve ser garantido pelo Estado como meio de afirmação da cidadania em última instância. E este é o caso aqui.

Angelo de Aquino marcou a sua obra com a figura do cachorro Rex quando o distinguiu meio a um projeto de representação de um completo bestiário brasileiro. A partir daí, tal qual no cotidiano da vida urbano do Rio de Janeiro, Rex passou a visitar cotidianamente a obra do artista. Por que não o visitaria no seu anúncio de morte? Como na lenda do cachorro da raça terrier Greyfriars Bobby, que ficou conhecido em Edimburgo, Escócia, no século XIX, por acompanhar e permanecer no túmulo de seu dono até a sua própria morte, 14 anos depois. Rex não é apenas um símbolo de lealdade, mas de fidelidade na obra de Angelo de Aquino. Fidelidade como marca de procedência, garantia de originalidade, presença do cotidiano urbano sempre constante em cada peça da obra do artista, um elemento a mais da paisagem de uma cidade grande destacado com capricho e ironia pelo autor. Num país em que o pensamento dominante é de um Estado provedor e tutelador de todas as demandas dos cidadãos, é muito oportuno assinalar a sua verdadeira missão de se limitar a garantir a liberdade maior de se contrariar a opinião geral. Pois entre seus maiores direitos cabe ao cidadão digno deste nome o direito a ser excêntrico, assim como a expressão do verdadeiro artista sempre será destoante do senso comum.

Veja mais no site do artista: http://www.angelodeaquino.com.br/
Acesse a história de Bobby: http://www.youtube.com/watch?v=yPWBi_kM8tI