30 junho 2010

Goya y Las Pinturas Negras


Goya y Las Pinturas Negras,
Valeriano Bozal, Museo Nacional del Prado, 2009

Esta série de pinturas, originalmente murais, decoraram a casa de Francisco de Goya (1746 – 1828) conhecida como Quinta Del Sordo e foram transpostas para tela pelo Barão Émile d´Erlanger que adquiriu a quinta em 1873 e as doou ao Museo Del Prado. Ficaram conhecidas pelo título de Las Pinturas Negras pelo uso recorrente de pigmentos negros, pelo próprio sombrio dos temas ligados à morte e os enigmas que a cercam. Todavia, são o auge de um antecipado expressionismo uma vez que, por se tratar de uma obra feita na intimidade de sua própria casa, o pintor deixa totalmente livre sua fértil imaginação. A ponto de os críticos se perderem num imenso e contraditório universo simbólico de interpretações as mais estapafúrdias. Resta apenas uma unanimidade sobre Las Pinturas Negras como um marco da modernidade estética e da superação do academicismo neoclássico e do romantismo idealista que dominavam a cena artística à época em que foram realizadas por Goya. A última das quatorze pinturas, a única em que não prevalece os tenebrosos fundos negros, O cão semi-afogado, foi descrita por Antonio Saura como v“uma das imagens mais belas do mundo”.

Depois de uma vida dedicada à pintura de câmara do rei Fernando VII, que se resumia a um retratismo oficial e repetitivo na sua falsa imponência, Goya se retira da vida de pintor oficial do rei para a mais livre e pura expressão de sua individualidade, sua visão de mundo libertária, anti-inquisitorial e anticlerical, denunciando com paixão e vigor o clima de violência e perseguição do Santo Ofício. Quando a crítica vai designar o movimento expressionista propriamente dito, fora da Alemanha no início do século XX, se refere a Goya avant-la-letre, no seu final de carreira a um século antes. São derivados dele, portanto, a escola expressionista alemã de Munch, Kirchner e Paul Klee, como os pós-impressionistas franceses Cèzane, Gauguin e Van Gogh, e até mesmo os expressionistas contemporâneos como Francis Bacon e Lucien Freud.

É neste período das duas primeiras décadas do século XIX, em que Goya se retira para executar Las Pinturas Negras, que chega à Espanha os ventos liberais das revoluções americana e francesa, tendo Fernando VII chegado a jurar e governar durante três anos sob uma constituição monárquico-parlamentarista (o chamado triênio liberal), a partir de 1820, quando se proliferam periódicos, manifestos e panfletos pregando as liberdades civis de crença, associação e de imprensa e denunciando os crimes da Inquisição.

Las Pinturas Negras, portanto, expressam com vigor e maestria este movimento de denúncia e catarse sobre até que ponto pode chegar a bestialidade humana. E, para além de artistas plásticos de todo o mundo, inspiraram cineastas como Milos Forman que em 2006 realizou um belíssimo filme sobre a vida de Francisco de Goya, que aqui mesmo nesta Agenda já foi resenhado.

Vale a pena revisitar em:

http://www.museodelprado.es/en
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Goya
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinturas_negras
http://www.imdb.com/title/tt0455957/
http://www.avozdocidadao.com.br/detailAgendaCidadania.asp?ID=1071
http://wwws.warnerbros.es/goyasghost/