30 março 2011



Metropolis, um filme de Fritz Lang, Berlin, 1927

Argumento e roteiro a partir de uma novela original de Thea Von Harbou

Com trilha original de Gottfried Huppertz

Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, março/2011

Regência de Silvio Viegas


Para além da grandiosa cenografia da cidade do futuro (prevista no roteiro original de Metropolis para o ano de 2016), a eletrizante trilha sonora, mais avançada que qualquer outra partitura para a sua época, ou mesmo a tese da rebelião dos operários claramente inspirada nas revoluções socialistas e comunistas da virada do século, temos um eloqüente epigrama a decifrar neste filme monumental.


O caminho jamais tentado da concórdia no lugar do confronto da luta de classes: “não pode haver entendimento entre as mãos e a cabeça se o coração não agir como moderador”. Ou seja, surge o expressionismo dentre tantas correntes estéticas e políticas do parto da modernidade pela fecunda matriz do romantismo europeu do século XIX, o mesmo romantismo que vai unir as artes à política. Um marco na história da cinematografia mundial uma vez que previu acontecimentos históricos reais como os das ditaduras totalitárias stalinista e nazista a partir dos anos trinta. Além da precoce crítica da desumanização do homem pela revolução tecnológica e pela busca do poder absoluto de controle da natureza.


O filme foi restaurado durante o pós-guerra, mas em 2008 foram reencontrados, na Argentina, 30 minutos de metragem deste clássico que correspondia às indicações da partitura musical que se acreditavam perdidas. Tal parte foi restaurada e acrescentada à versão conhecida para a Berlinale 2010, 83 anos depois da sua segunda estréia mundial. Menções bíblicas como as da Torre de Babel, da vinda de um mediador para selar a paz da humanidade e a do sacrifício dos herdeiros como castigo destinado aos homens independentemente de suas classes sociais, se constituem elementos políticos que transcendem as ideologias de época e que afirmam o poder e a autonomia da arte como discurso que supera as suas vicissitudes histórico-políticas.


O ponto alto do filme é a cena final em que se concretiza a metáfora "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!" quando ocorre o simbólico aperto de mão mediado pelo herói Freder entre Grot, líder dos trabalhadores, e Jon Fredersen, o governante-empresário da cidade alta. Utopia, aliás, inicialmente proposta pelos próprios socialistas, tendo sido superada pelos eventos da crua realidade histórica. A própria dupla Thea von Harbou e Fritz Lang se separa durante a ascenção nazista, sendo que Lang emigrará da Alemanha e acabará seus dias na América atrás de um ambiente cultural propício à sua utopia da liberdade. Como da propriedade, que se traduz na verdade como a busca da felicidade da constituição americana, esta jamais alcançada pelos regismes totalitários do comunismo e do nazismo.


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