05 dezembro 2012

Os empresários e a mídia


Não apenas políticos populistas, mas também a mídia sensacionalista adora alardear os movimentos sociais. O que frequentemente leva aos mais incautos a tomar como multidões de manifestantes uma meia dúzia de gatos pingados que caberiam num furgão. Outros movimentos como os empresariais já não rendem tanta manchete ou escalada de telejornais. Afinal, são menos cenográficos e mais propositivos, o que não dá margem a imagens e chamadas de impacto. Se fizermos uma rápida enquete junto às audiências televisivas veremos que ninguém ouviu falar na Ação Empresarial, no MBC – Movimento Brasil Competitivo, ou no MBE – Movimento Brasil Eficiente.Movimentos empresariais que já duram há vários anos e lutam por reformas estruturais do Estado brasileiro e por políticas públicas que envolvem interesses não apenas corporativos do setor, mas o bolso de todos nós, cidadãos eleitores, consumidores e pagadores de impostos.

Vejamos este último, o MEB, que propõe uma reforma tributária gradual e realista para a próxima década e que já tem mais de 100.000 apoiadores em seu site. Como todo mundo sabe, um dos grandes entraves para o desenvolvimento pleno do Brasil é a elevada carga tributária que pesa sobre a sociedade, especialmente aqueles que estão nas faixas mais baixas de renda.Segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa Tributária, hoje os cidadãos brasileiros comprometem pelo menos 40% da sua renda bruta para os fiscos federal, estadual e municipal. Na prática, o cidadão trabalha hoje cinco meses por ano apenas para pagar tributos. É muita coisa, principalmente se comparamos com os serviços precários que os governos oferecem em troca para a sociedade.

O movimento se iniciou há poucos anos a partir de diversos agentes envolvidos com o setor produtivo nacional, como federações empresariais e empresas de diversos segmentos, mas ganhou a adesão também de várias associações civis de profissionais liberais e cidadãos trabalhadores, todos em torno de uma proposta de simplificação fiscal e tributária que garanta ao país um crescimento econômico sustentável, consistente econstante. A ideia é diagnosticar e propor soluções que revertam esse quadro tributário perverso e pouco transparente.

Segundo um de seus idealizadores, o economista Paulo Rabello de Castro, dentre as várias propostas do MBE, a que tem mais chance de conquistar apoio da maioria da sociedade, e dos setores público e político, seria uma diminuição gradual da carga de impostos e do déficit público ao longo dos próximos 10 anos. Mais ou menos 1% ao ano. Assim, depois desse tempo chegaríamos a uma redução de 10% na carga, o que nos traria de novo para perto da carga tributária de países mais desenvolvidos, ou da já praticada no Brasilantes da década de 90. Para fazer a ideia dar certo, o MBE tem algumas propostas, como reduzir a taxa básica de juros, racionalizar o conjunto de impostos cobrados hoje e também desenvolver a infraestrutura dopaís para que a produção industrial possa aumentar e gerar empregos com menores custos.Mas tais propostas não são visíveis na mídia de massa, para não dizer que se segregam apenas no noticiário econômico e de negócios, de resto percebidos pela opinião pública como se fossem de interesse corporativo exclusivo do setor empresarial. Se todos os formadores de opinião já estão carecas de saber queum dos maiores entraves para o desenvolvimento pleno do Brasil é a elevada e injusta carga tributária que pesa sobre a sociedade, especialmente sobre os que estão nas faixas mais baixas de renda, como não conseguem argumentar exatamente para os maiores interessados?

A ideia da simplificação fiscal e tributária que garanta ao país um crescimento econômico sustentável, consistente, constante e acelerado tem como inimigos apenas os que se aproveitam de um Estado-empresário hipertrofiado, injusto, perverso e pouco transparente e todos sabemos quem são: políticos corruptos, empresários corruptores e burocratas oportunistas. E o Brasil em sua grande maioria está cansado deles! Se vivemos numa democracia por que o interesse da maioria é solapado pelo de uma minoria? Tenho refletido bastante sobre o papel do uma nova estratégia de argumentação do empresariado na articulação de uma agenda mínima comum, e que tenha efetiva eficácia de argumentação junto aos demais setores sociais e me parece que seja exatamente o tratamento da comunicação, a própria estratégia de argumentação, o que falta. Por que o empresariado, que sustenta o setor de mídia via publicidade comercial de seus produtos e serviços, se revela ingênuo na hora de negociar sua estratégia de comunicação de interesse público.

Como não pretendo inventar a roda, passei anos estudando o mesmo fenômeno em culturas de instituições democráticas mais sólidas como a inglesa e americana. E constato que os movimentos empresariais brasileiros carecem exatamente do que sobra nos movimentos sociais: a sua habilidade de relacionamento com a mídia. E aqui friso a mídia, não apenas a imprensa. Enquanto que a classe política que os mesmos empresários financiam em cada eleição, continua a boicotar todas as agendas de reformas, uma a uma, olimpicamente, na certeza de que a pauta da mídia não mudará. A não ser uma ou outra notícia esparsa em algum programa jornalístico de baixa audiência, mas jamais na vertente de entretenimento da grande audiência, onde realmente se conquistam corações e mentes, se mudam valores, se produz cultura, se cria o imaginário social e político de um país. Onde a escala de 100 mil pode chegar a milhões de adesões, patamar a partir do qual os políticos via-de-regra começam a se mexer.

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